13 julho 2008

EU SEI, MAS NÃO DEVIA...

Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.


A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.



CONHEÇO ESSE POEMA HÁ MUITO TEMPO.
ENTENDO, REFLITO, SEI.


ESTRANHO É COMO NOS COLOCAMOS EM CERTAS SITUAÇÕES, QUE SABEMOS SER OU JULGAMOS SER NÃO CORRETAS, MESMO SABENDO QUE ESTAS PODEM NOS LEVAR A CAMINHOS NÃO ESPERADOS, MAS AINDA SIM, CONHECIDOS.

É SABER, QUE A ÁGUA DO MAR É FRIA, NOS FAZ SENTIR FRIO, MAS AINDA SIM VC ENTRA...
É SABER...

FALTOU- ME PALAVRAS. NÃO GOSTO DISSO...

É FAZER UMA COISA QUALQUER QUE, MESMO SABENDO QUE ISSO PODE NÃO TE LEVAR A BOAS COISAS.

É SABER E FAZER. MAS NÃO DEVIA...

PORÉM, EU, O LUH POÉTICO, O LUH KAIZEM QUE HÁ EM MIM (E O MEU PURO E SIMPLES EU MESMO, O LUCIANO APARECIDO DOS SANTOS) ACRETITA QUE, É SIM NECESSÁRIO, SALTAR PARA O ABISMO DO DESCONHECIDO

ABISMO DO DESCONHECIDO...

TAÍ. VOU ESCREVER ESPECIFICAMENTE SOBRE MINHAS CONCEPÇÕES DE ABISMO DO DESCONHECIDO...
(by LUH)

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